domingo, 23 de novembro de 2008

O Ser Humano como Diferencial Competitivo


Mudanças e mais mudanças. Esta tem sido uma década de grande mudanças que estão ocorrendo nas áreas do conhecimento, nas formas de pensar, nos valores e nas relações de poder entre as pessoas. A palavra de ordem é: é preciso mudar para sobreviver e permanecer competitivo. Mudar métodos de gestão empresarial, mudar processos de gerenciamento de pessoas. Em uma sociedade onde informações surgem com rapidez vertiginosa, a demanda por mudanças cada vez mais velozes e capazes de gerar diferenciais passa a ser um dos principais focos de pressão.
Por outro lado, se pudermos olhar a competitividade como sendo a inovação tornada realidade, assegurando um diferencial competitivo às empresas, podemos deduzir facilmente que todo o diferencial, face à rapidez da informação e ao crescente surgindo de novas tecnologias, é rapidamente igualado pelas empresas no mercado. Assim, o que levava meses e até anos para ser alcançado pelos concorrentes, hoje não é mais uma vantagem competitiva duradoura. Logo, em um mundo onde as vantagens competitivas se igualam em pouco tempo, o principal diferencial competitivo passa a ser o fator humano nas empresas. Este é capaz de enfrentar, com sucesso, a competitividade.
É preciso mudar. Adotar-se “reengenharia”, “quebra de paradigmas”, “inovação”, “criar sinergia”, “teamwork” e quantas outras palavras quisermos acrescentar...
Parece simples, no discurso. Difícil, porém na ação. O processo de mudança começa pelas pessoas. E pessoas não são tão simples quanto aparentam ser. Cobram-se mudanças nas empresas, esquecendo-se de que o principal fator capaz de torná-las permanente competitivas é o fator humano.
Não acredito que se possa desvincular a qualidade das pessoas. Por trás de todos os processos estarão sempre pessoas responsáveis por sua implementação e, até mesmo, controle. Todo e qualquer processo de mudança, para ser efetivo, necessita ser, primeiro, assimilado pelas pessoas. Assim, um bom caminho para enfrentar a crescente demanda por qualidade nas empresas é preparar e instrumentalizar seus colaboradores constantemente.
Para ajudar pessoas em seus processos de mudança, é preciso ajudá-las a se auto-conhecerem. O raciocínio é simples: quanto mais eu me conhecer, saber porque ajo e reajo de certas formas, mais consciente estarei dos meus limites e potencialidades e cada vez mais poderei atuar sobre estes limites e potencialidades, ao invés de ser um mero espectador. Ou vejo a vida passar ou atuo como um agente de mudanças, inclusive facilitando aos esta mesma compreensão. Mas isto requer um envolvimento de minha parte, no sentido de querer fazer a diferença. É algo interior, íntimo, e está ligado à vontade de contribuir. Na vida, sempre posso optar entre fazer ou não fazer a diferença. Isto é consciência. Isto é o ser humano como diferencial.
Que eu possa, primeiro, produzir em mim as mudanças que eu desejo que aconteçam nos outros e na minha empresa. Que o meu nível de consciência permita a percepção de meus limites e de minhas potencialidades nos contextos onde vivo. Só quando eu me conhecer razoavelmente, poderei estar preparado para conhecer e aceitar as potencialidades e limitações dos outros. E só então interagiremos como pessoas plenas, motivadas por estímulos totalmente diferentes dos bem conhecidos por todos nós hoje: medo e pressão.
É preciso haver passado pelos processos de mudança para sermos capazes de repassar aos outros nossas experiências. Na pessoa que já as vivenciou, o discurso não fica só nas palavras. Baseia-se na ação e por isso mesmo lhe confere credibilidade. Esta a diferença: é preciso, antes, dizer eu para poder, com credibilidade, dizer nós e ser um fator humano capaz de mudar outros fatores humanos.
Facilitar ao outro a consciência de suas habilidades, a percepção de suas limitações, é servir de ponte entre o passado e o futuro. É preencher a figura do ser humano / profissional que gera o diferencial competitivo.
Hoje, no ritmo alucinado de nosso dia a dia com clientes cada vez mais exigentes e demandas cada vez mais fortes por parte da direção das empresas - sem esquecer as pressões normais da família e as necessidades materiais de segurança para sobrevivência - , a tendência é seguirmos a correnteza. Sem questionamentos.
A ausência da parada necessária para a reflexão sobre como as mudanças estão nos afetando, afetando o ambiente onde trabalhamos, ou mesmo onde vivemos, nos torna apenas meros observadores passivos, ao invés de participantes engajados nos processos. Provoca a deficiência do auto-conhecimento, tira-nos a visão estratégica do futuro e nos leva à falta do comprometimento e do envolvimento, atributos indispensáveis para fazermos a diferença nos ambientes sonde vivemos.
Como eu vejo o contexto atual, como eu me sinto ou me situo em relação a ele e qual o meu papel frente a esta realidade? Três perguntas simples, mas com grande poder de despertar o auto-conhecimento necessário para ser capaz de torna-me um diferencial competitivo e um agente facilitador de processos de mudanças, descobrindo e incentivando novas maneiras de resolver problemas.
Finalizando esta reflexão, trazemos um trecho retirado do livro Megatrends 2000, de autoria de John Naisbitt e Patrícia Abunderne, editora Amana-Key, falando sobre a megatendência intitulada Triunfo do Indivíduo:” Qualquer pessoa bem treinada pode ser um gerente. Mas um líder é um indivíduo que consegue fazer com que as pessoas o sigam, através de sua conduta ética e sua habilidade de criar um ambiente no qual o potencial único de cada indivíduo possa se realizar”.

Ricardo Farah