domingo, 3 de maio de 2009

Dedicado a Chagdud Tulku Rinpoche


07h00. Começo a caminhada matinal. Não quero apenas caminhar, mas meditar caminhando. Inicio a respirar com ritmo. O ar entrando nos pulmões favorece a clareza mental e acalma as emoções.
E então não sei de onde surge uma saudade imensurável. Um vazio aparentemente inexplicável. Caminhando e respirando entro em contato com o meu sentir e sinto falta. Falta de meu lama Chagdud Tulku Rinpoche.
“Visto que, a não ser que ouçam os sentimentos, a ignorância não pode ser dissipada, acendem vocês a lâmpada do Darma repetidamente?”
Rememoro que tive a felicidade de conhecer e poder receber ensinamentos de um mestre cuja amorosidade e presença foram tão marcantes em minha vida quanto um relâmpago na escuridão.
De repente parece-me sentir falta de uma conexão com meu lama e examino esta primeira crença. É limitante ou potencializadora? Depende do prisma que eu a enxergar. Se a olhar como meu lama cortando sua conexão comigo ou eu mesmo perdendo minha conexão com ele é limitante. Porém, se a olhar como um sinal de alerta de que não estou atento a esta conexão ou que não estou cuidando dela como deveria aí a crença é potencializadora.
Pode alguém perder uma conexão já estabelecida? Sim, se dela abrir mão. Se dela não cuidar como em qualquer outro relacionamento.
Definitivamente não quero abrir mão desta conexão tão vital pra mim como o ar que respiro. Examinar crenças foi algo que aprendi com ele.
“Conseguem romper as amarras do seu aprisionamento e apego a todos os outros atos, impermanentes e ilusórios, desta vida?”
Por outro lado, questiono: nesta falta que sinto existe apego, ou saudade? É a saudade um apego? Apego para mim está ligado a posse ou propriedade e sei que isto não tenho ou não posso ter neste tipo de relação. A saudade para mim é falta, falta no sentido do reconhecimento do que existiu. A saudade é para mim como uma reverência, um re-conhecimento do que se experenciou e a felicidade por ter podido vivenciar. Gratidão ligada à saudade. Gratidão por ter tido a oportunidade. Gratidão por renunciar ao apego.
“Visto que não existe oportunidade para felicidade duradoura no ciclo da existência, a atitude sublime da renúncia desponta em seu contínuo mental?”
Caminho, respiro e sinto em meu coração muito amor. O sentimento é doce como o mel. Poder relembrar o que houve só no reconhecimento e na gratidão sem a amarra da cobrança e do ter que ter a posse, é libertador.
Ele era detentor de uma clareza e de uma compaixão exponenciais. Sorriso iluminador, perspicácia de ler e ver o que não se lia e via, revelando maestria em cada palavra em cada ensinamento. Um sorriso aberto e uma gargalhada inspiradora...
“Para serem protegidos do sofrimento deste ciclo de existência, deixam vocês de causar danos a outros, assim como qualquer coisa que possa levar a isso?”
Continuo a caminhar e a meditar mais um pouco, mas agora sei que esta conexão é. Simplesmente. Está ali alojada no “lado esquerdo do peito” onde se guarda os amigos e se reverencia com respeito e humildade o que é. Sinto-me feliz e aliviado. Coração aquecido.
“Com seus méritos e riquezas, reais ou imaginários, acumulados, fazem oferendas para aperfeiçoar a acumulação do mérito?”
Dele recebi e a ele e a todos os seres dedico.
OM! Na mente de meu Guru eu me dissolvo como uma ilusão da individualidade na realidade do todo maior;
AH! Na voz de meu Guru eu me acalento na intenção e na fala do Bodisatva;
HUNG! No coração de meu Guru eu mergulho no amor para a realização das tarefas práticas de meu dia -a-dia com presença mental consciente.