sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Ná, ná, ná, návte dobo ná... ( Prabhát Sam´giita) Dedicado à P. R. Sarkar

Você deve estar se perguntando o porquê do título deste artigo e o que ele significa, não?

Eu e minha esposa estávamos em um retiro semanal de Yoga e Meditação do qual participamos no mínimo duas vezes ao ano (www.visaofuturo.org.br) e uma cena que ocorreu levou-me a esta série de reflexões.

Em um determinado momento fazíamos (cerca de 200 pessoas) uma aula coletiva de Yoga em um grande salão com inúmeras janelonas de vidro quando, de repente, um passarinho voou para dentro do grande salão e lá dentro voava de um lado para o outro livremente até que em determinado momento começou a procurar a saída e não o conseguindo voava mais alto até o teto do salão buscando a saída , cada vez mais cansado. Neste exato momento o passarinho enroscou-se em uma grande teia de aranha. Fez um movimento para sair, mas o movimento resultou em uma aderência maior da teia ao seu corpo imobilizando-o totalmente.

Alguns de nós, (entre os quais eu e minha esposa) estávamos agoniados desde o início da entrada do pássaro tentando adivinhar como ele poderia sair de lá. Agora estávamos desesperados para descobrimos como liberá-lo daquela prisão em que havia se enroscado. O teto era bem alto e as aranhas já se movimentavam em direção a ele...

Ná, na, na, návte dobo ná...

Man ke kono choto kájei, návte dobo ná.

Neste instante da vontade energética do coletivo e da ação de alguns de nós formou-se uma mobilização de equipe e surgiu um bambu de cerca de 10 metros de comprimento e cuidadosamente fomos elevando-o até alcançarmos a teia de aranha perto do pássaro na tentativa de rasgarmos a teia e ele se libertar. Mas nada... A teia era tão forte que grudou no bambu e ao ceder trouxe com ela o passarinho imobilizado. Pegamo-lo, limpamos de suas asas, com cuidado, a teia viscosa e ele pode voar livremente.

Aqui começam minhas reflexões sobre o ocorrido:

Neste retiro havíamos aprendido uma canção em sânscrito:

Ná, na, na, návte dobo ná...

Man ke kono choto kájei, návte dobo ná.

A tradução livre desta canção seria:

Nas amarras da minha mente,

Eu não vou cair.

Não, não, não-ão-ão-ão-ão

Eu não vou cair.

Vou fluir nas ondas da vida,

A luz me faz sorrir!


Quantas e quantas vezes tal como aquele pássaro caímos nas amarras de nossas mentes e ficamos imobilizados?

Alguns exemplos me ocorrem.

Quando nos preocupamos com alguma situação de nossa vida e vamos imaginando como as coisas vão ficar piores ao invés de simplesmente nos ocuparmos e vivermos intensamente o momento presente que nos faz fluir nas ondas da vida;

Quando nosso coração fica tomado pelo medo também caímos nas amarras de nossas mentes e substituímos o fluir da vida, o Amor, pelo medo que nos paralisa;

Quando somos possuídos por nossos pensamentos e nos identificamos com eles sem perceber que estão nos enredando e que nós somos a consciência por trás dos nossos pensamentos e não somos eles;

Quando da mesma forma, somos possuídos pelas emoções de raiva e tristeza e com elas nos identificamos sem perceber que o antídoto é o amor que é nosso estado natura de fluir nas ondas da vida;

Quando perdemos a conexão com o nosso eu interior (nós mesmos) e vivemos o tempo todo em função das demandas exteriores de nossa sociedade moderna atendendo todos os apelos externos e nos privando do contato com nossa sabedoria interior, caímos na grande teia de aranha que nos impede de fluir na luz que nos faz sorrir.

Outra reflexão: a importância de termos ao nosso lado amigos que compartilham dos mesmos valores e aspirações com propósitos de vida assemelhados que podem solidariamente sentir compaixão por nós e nos tirarem das amarras das nossas mentes tal qual tiramos aquele passarinho da teia da aranha.

Ná, ná, ná, návte dobo ná...